Por que precisamos falar de habitação no Dia Internacional das Mulheres?

Por Raquel Ludermir

O dia 8 de março é um símbolo da luta das mulheres por seus direitos no mundo inteiro. Apesar do avanço conquistado nos últimos anos, milhares de mulheres, especialmente mulheres negras, enfrentam maior restrição a condições de moradia adequada, saneamento básico e acesso à internet.

Hoje, queremos te convidar à seguinte reflexão: onde e como moram as mulheres que sofrem violência doméstica, e aquelas que conseguiram escapar de relacionamentos abusivos?

Algumas mulheres permanecem em relacionamentos abusivos para proteger seus bens e a herança dos filhos, para não perderem o patrimônio que tanto trabalharam para construir, e que em situações de pobreza é tão difícil de recompor.

Outras entram em uma fase de despejos cíclicos, em que a falta de moradia as faz retornar para o local de convívio com o agressor. Ou seja, permanecem em relacionamentos abusivos em troca de um teto, por não ter para onde ir. Isso constitui um déficit habitacional ainda invisibilizado nos dados e análises oficiais sobre a demanda por moradia no Brasil.

Ao sair de casa para “evitar o pior”, surge o próximo dilema: para onde ir?

Foto: Priscilla Melo

No Brasil, existem menos de 80 casas-abrigo para mulheres em situação de violência doméstica e familiar. As vagas em casas-abrigo são restritas para mulheres em situação de risco iminente de morte, ou seja, antes do risco de feminicídio, não existe abrigamento para mulheres em situação de violência doméstica.

Diante dessa situação, muitas vezes, a única alternativa possível para essas mulheres é procurar opções que estejam alinhadas à condição financeira que possuem, realidade que faz com que acabem vivendo em moradias precárias, com falta de banheiro exclusivo, construção feita com material não durável ou com mais de três moradores por quarto.

Habitat para a Humanidade Brasil acredita que a discussão sobre moradia digna não pode ser dissociada da discussão sobre o direito à cidade para populações mais vulneráveis, incluindo recorte de gênero e raça.

Dessa forma, trabalhamos ativamente, em conjunto com outras entidades da sociedade civil, para influenciar políticas públicas e ampliar o debate sobre a proteção de assentamentos precários e a melhor ocupação das cidades.


Raquel Ludermir  é doutora e mestra em desenvolvimento urbano. Já documentou, avaliou e colaborou com boas práticas urbanas na América Latina, África e Ásia e atualmente está Coordenadora de Incidência Política da organização Habitat para a Humanidade Brasil.