FNRU lança ensaio fotográfico “Mulheres negras sustentam as cidades”

Por Débora Britto

Olhos pretos. Periféricos. Mulher negra que olha para a cidade sabendo exatamente onde pisa e o peso da cor da pele, mas conta uma outra história sobre a cidade, o centro e a periferia. A lente de Priscilla Melo fotografa mulheres negras no centro da sociedade, na base das cidades, no foco do olhar. 

O ensaio fotográfico “Mulheres negras sustentam as cidades”, assinado pela fotógrafa recifense Priscilla Melo nos mostra mulheres negras que são trabalhadoras, estudantes, lutadoras, lideranças populares que lutam diariamente por uma cidade que seja justa, democrática, com equidade e respeito às diversidades.

Elas lutam pelo direito à moradia desde as ocupações urbanas, da organização de mulheres trabalhadoras no bairro onde vivem, a criação de coletivos de arte e educação. Precisamos saber das suas lutas, suas trajetórias. Precisamos saber seus nomes. 

É a luta da jovem mãe Fabíola Xavier, da Ocupação 8 de Março, que precisamos conhecer. É o exemplo de Danielle Abravanel da Costa, também da Ocupação 8 de Março, que é liderada apenas por mulheres, que atravessa a cidade com um olhar forte e um sorriso no rosto.

A história de Edicléia Santos, fundadora do Grupo Espaço Mulher, em Peixinhos, e a inspiração que ela é para mulheres que estão lutando por direitos, por moradia, pelo direito de viver em segurança. 

Conheçam e sigam Sarah Marques, do Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste e moradora da comunidade Caranguejo Tabaiares, que está nas trincheiras da resistência pelo território em que vive. 

Enxerguem o sorriso e a força de Nilza Lima, do Revelar-si, coletivo de Fotógrafas da comunidade do Coque, que reivindica a cidade com a sua bicicleta, que se conecta com o mangue que beira o Rio Capibaribe e luta por uma cidade que respeite as mulheres. 

São mulheres que lutam pelo direito à cidade ao mesmo tempo em fazem parte de tudo que estrutura e sustenta essa mesma cidade desigual. Sem as mulheres negras, que cidade existiria?

A cidade é uma mulher negra que resiste, que cria, que sobrevive, mas que precisa poder viver. Se são as mulheres negras que sustentam as cidades, que as cidades sejam feitas por elas e para elas


Clique
aqui para ver o ensaio “Mulheres negras sustentam as cidades” completo!



“As pessoas precisam saber que existe essa correria de sobrevivência das mulheres negras e também a instiga e a resistência das mulheres negras. Não tem pra onde correr. A estrutura da sociedade quem leva nas costas é a mulher negra”, conta Priscilla. 

A fotógrafa Priscilla Melo compartilhou a experiência de fotografar essas mulheres, suas lutas e como esse encontro a marcou. Confira abaixo:

Priscilla Melo. Foto: Acervo pessoal

“Para mim, como uma mulher negra nessa sociedade, ter encontrado com essas mulheres que eu tive oportunidade de fotografar me potencializou ao extremo.

São mulheres que estão na luta pela ocupação da cidade, do seu território. Elas estão lutando pela defesa do seu direito à cidade e pelo direito à moradia.

Essas mulheres são potências nos seus territórios e participam diretamente da elaboração desses espaços, da criação de espaços para garantir o lazer para quem mora ali, para as crianças. 

Elas lutam para ter acesso à educação, acesso à saúde. Isso me fortalece demais. Isso nos ajuda a enxergar o quanto a gente é estrutura e a base dessa sociedade. 

Muito além do Dia Internacional das Mulheres, que não me contempla, e acredito não contempla a luta por direitos de muitas mulheres negras. As pessoas precisam saber que existe essa correria de sobrevivência das mulheres negras e também a instiga e a resistência das mulheres negras. 

Não tem pra onde correr. A estrutura da sociedade quem leva nas costas é a mulher negra. E o desafio é estar viva. É criar o seu filho numa ocupação. Criar o seu filho num território que não tem lazer, não tem acesso a educação ou, se tem, é escasso. 

Além de serem mulheres, são corpos na cidade que peitam essas entidades que são masculinas, hegemônicas, que são machistas. E elas conseguem ir além disso, com medo. Com medo mesmo, porque a gente tem medo. Essas mulheres que foram fotografadas têm medo. Mas elas têm que sobreviver, elas têm que viver, elas têm que colocar a vida pra frente. Então, ver isso me torna mais potente e me faz muito feliz fazer um retrato dessa pessoa, dessa estrutura, dessa dessa base. 

Essas mulheres são potências a todo o tempo, independente da data, independente do dia e estão na correria sempre.


Priscilla Melo, fotógrafa autora do ensaio “Mulheres negras sustentam as cidades”


Débora Britto é jornalista, feminista negra, ativista pelo direito à comunicação e Assistente de Comunicação para Incidência Política e Programas da Habitat para a Humanidade Brasil.