O primeiro ciclo de oficinas de gênero, raça e direito à cidade promovidos pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) e entidades parceiras aconteceu no mês de maio de 2021. Foram realizadas 16 oficinas na modalidade online, com encontros com duração de 3h. Ao todo, 549 mulheres de todas as regiões brasileiras participaram da formação.
As oficinas foram desenvolvidas pelo Fórum em parceria com a Habitat para a Humanidade Brasil e o CDES Direitos Humanos, em aliança com a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, UNMP (União Nacional por Moradia Popular), MNLM (Movimento Nacional de Luta pela Moradia), CPM (Central de Movimentos Populares), IBDU (Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico), Observatório das Metrópoles, FASE, CONAM (Confederação Nacional das Associações de Moradores), MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e com apoio da União Europeia.
A mobilização e articulação para chegar em diversas localidades é uma ação inovadora e que rendeu importantes resultados para o Fórum e entidades parceiras. “Esse é um marco bem importante, resultado de um esforço nacional que fizemos com articulação e a parceria com várias instituições tanto nacionais, mas também locais de cada um desses estados”, explica Raquel Ludermir, da Habitat para a Humanidade Brasil, uma das organizações responsáveis pela realização das oficinas junto ao Fórum. Os estados que receberam oficinas foram Bahia, Tocantins, Rio Grande do Norte, Piauí, São Paulo, Ceará, Pará, Paraná, Paraíba, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Amazonas, Maranhão e Rio de Janeiro.
A potência dessa articulação ficou evidente na diversidade de temas e questões compartilhadas pelas participantes. “Surgiram temas que a gente já esperava, como por exemplo o impacto da pandemia na vida das mulheres, que apareceu muito. Mas também surgiram temas muito elaborados, como a questão da representatividade e empoderamento das mulheres nos espaços de discussão e nos próprios movimentos sociais. É importante observar isso no âmbito doméstico, mas também na perspectiva do direito à cidade de uma forma mais ampla”, destaca Ludermir.
Temas que atravessam as mulheres
As mais de quinhentas mulheres que participaram das oficinas puderam partilhar suas vivências e como enxergam a luta pelo direito à cidade associada às questões em envolvem o ser mulher, ser mulher negra, periférica, de luta e outras características diversas que trazem consigo.
O impacto da pandemia na vida das mulheres, a desigualdade racial, com a necessidade de analisar como o racismo atravessa as temáticas de gênero e classe, a violência doméstica, o feminicídio e as inseguranças e violências no transporte e espaços públicos foram questões recorrentes e muito lembradas pelas mulheres.
Mas, junto com as questões mais amplas, também foi colocada a importância da agenda de luta pelo direito à cidade incluir e absorver outras temáticas como o bem viver e a maternidade, o afeto LGBTQI+, a saúde mental, e o reconhecimento e valorização da subjetividade das mulheres.
A urgência de repensar o modelo de desenvolvimento das cidades precisa estar aliada ao questionamento contínuo da invisibilidade e exclusão das mulheres negras, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, camponesas e periféricas dos processos de luta. Um sentimento compartilhado é o de que a mudança pode e deve acontecer a partir dos movimentos sociais.
“A diversidade enorme de temas tem muito a ver também com abrangência nacional. Essa percepção é fundamental para entendermos como é e precisa ser diversa a discussão sobre gênero, raça e direito à cidade numa perspectiva feminista”, analisa Raquel. Além dessas, outras questões levantadas serão discutidas na continuidade da formação.
Próximos passos
Os próximos dois ciclos da formação terão início no segundo semestre, com objetivo de aprofundar as temáticas que foram pontuadas como principais questões pelas mulheres que participaram das oficinas. “O segundo ciclo vai ser o momento mais de aprofundamento nos temas prioritários e o terceiro vai ser o momento mais de construção de estratégias. Em seguida, vamos ter um edital de apoio a coletivos locais que trabalham com essa mesma temática de fortalecimento das mulheres sobre gênero, raça e direito à cidade”, explica Raquel.
A ideia é que as mulheres mobilizadas continuem trabalhando as reflexões sobre direito à cidade, gênero e raça a partir das realidades locais e construam estratégias coletivas de enfrentamento dos problemas que enfrentam.